LEV KROPIVNÍTZKI
( Rússia )
(n. 1907? )
Autor de versos que até hoje circulam na URSS em cópias datilografadas. Não foi possível obter sobre ele nenhuma informação, além do ano aproximado de nascimento.
Depois de ler um número apreciável de escritos poéticos russos inéditos e que circulam clandestinamente, resolvemos incluir nesta antologia, além dos poemas de Aigui, a sextina que se segue, considerada por muito um verdadeiro clássico do Samizdát.
(Augusto de Campos e Boris Schnaiderman)
POESIA RUSSA MODERNA. Nova antologia. 3ª. edição. Traduções de Augusto e Haroldo de Campos. Prefácio, resumos biográficos e notas; Boris Schnaiderman. São Paulo, Editora Brasiliense S.A, 1985. 292 p. Ex. bibl. Antonio Miranda
SEXTINA
Cala, e não haverá desgraça.
Oculta-te e fica de lado:
Não te agites para cá, pra lá.
Não te enerves, bico calado.
É isso aí: cai no trabalho
E, pouco a pouco, dança, dança.
Quem nasceu não tem jeito, dança:
Para que buscar mais desgraça?
A vida é assim mesmo: trabalho
Trabalhar e passar de lado.
Aguentar, mas sempre calado,
Olhar pra cá, olhar pra lá.
Mesmo que olhes pra cá, pra lá,
De que adianta? — disseram, dança,
Tudo é inútil. Passa, calado,
Para não cair em desgraça.
Se há desgraça, fica de lado,
Mas lembra bem: tudo é trabalho.
Trabalho é sempre trabalho:
Zanza pra cá, zanza pra lá,
Ou trabalha ou fica de lado.
Comer não é bom? Então, dança.
Pra viver com menos desgraça
E mais paz, agüenta calado.
Que outros chiem, ouve calado
E conhece bem teu trabalho:
Talha pra cá, malha pra lá;
Quem pode viver sem desgraça?
É esse o jeito: trabalhe e dança...
E pouco a pouco sai de lado.
Tudo passa — fica de lado,
Aceita o teu quinhão, calado.
Pra que dançar? Esquece a dança
E trabalha no teu trabalho,
Talha a mortalha e vai pra lá,
Pra lá, onde não há desgraça.
1948 (Tradução de Augusto de Campos e Boris Schnaiderman)
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Página publicada em maio de 2023
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